Notas sobre o texto «Inibição, Sintoma e Angústia» de Freud

Inibição

A inibição «exprime uma limitação funcional do Eu»1. Pode ser descrita como «um processo que ocorre dentro do Eu ou que age sobre ele»2. É uma restrição de uma função do Eu, um processo normal e não necessariamente patológico (um sintoma), mesmo que em alguns casos possa ser um sintoma.

Como está ligada à função, a inibição pode atingir diversas funções da vida, tais como a função sexual, o trabalho, a nutrição ou a locomoção. Há um laço entre a inibição e a angústia. «Várias inibições são claramente renúncias à função, pois o exercício dela produziria angústia»3. Ou seja, se o indivíduo realizasse uma determinada ação, o resultado dessa ação produziria angústia e, para evitar esta angústia, a capacidade de realização desta ação (função) é inibida, é diminuída, bloqueada.

A inibição pode ocorrer por duas razões principais, «por precaução ou devido ao empobrecimento de energia»4.

A primeira, por precaução, tem como objetivo evitar o conflito do Eu com as duas outras instâncias do aparelho psíquico: o Id e o Super-eu.

No que concerne ao conflito com o Id, a inibição apareceria por uma uma «erotização excessiva dos órgãos requeridos para essa função. […] A função do órgão subordinada ao Eu fica prejudicada quando aumenta sua “erogenidade”, sua significação sexual»5. Assim, a inibição aparece como um mecanismo onde o «Eu renuncia a estas funções que lhe cabem […] para evitar um conflito com o Id»6. Ou seja, o Eu abandona a sua função para não realizar uma ação sexual que deve ser recalcada, para evitar uma ação que «seria como realizar o ato sexual proibido»7.

No que concerne ao conflito com o Super-eu, a inibição aparece «claramente a serviço da autopunição»8. O Eu abandona a sua função para não realizar uma tarefa que, se realizada, traria satisfação, vantagens e êxitos ao indivíduo, «o que o severo Super-eu lhe proíbe»9. Esta é uma inibição comum na atividade profissional, onde o indivíduo não consegue iniciar uma tarefa ou, quando a inicia, não consegue terminá-la ou a abandona.

A segunda, o empobrecimento de energia, acontece «quando o Eu é solicitado por uma tarefa psíquica particularmente difícil»10. O sistema psíquico tem um grande dispêndio de energia para realizar esta tarefa psíquica («um luto, uma enorme supressão de afeto, ou a necessidade de refrear fantasias sexuais que emergem continuamente»11) e o indivíduo fica sem energia disponível para realizar uma função, fica impedido de realizar a função. Como exemplo, um indivíduo numa situação em que «claramente deveria produzir uma explosão de raiva, sucumbia a uma fadiga paralisante»12.

A inibição pode afetar uma função de diversas maneiras através de diversos procedimentos de perturbação:

1) afastar-se antecipadamente – o afastamento da pulsão que produziria uma ação (processo interno) ou o afastamento daquilo que o leva a querer realizar uma ação (processo externo);

2) evitar começar – quando está próximo daquilo que o leva a ação, ele pode ter dificuldades em começar a tarefa, perder a capacidade de realizar a tarefa, criar impedimentos para realizar a tarefa, criar medidas de prevenção e segurança, ligar-se a outras tarefas, tudo como medidas que inibem e evitam a realização a função;

3) evitar terminar – quando a tarefa já está começada, pode ocorrer a sua interrupção pelo surgimento da angústia ou por outras ações que impedem a finalização da tarefa (procrastinação, perda de prazos, perfeccionismo excessivo, etc.);

4) desfazer o que foi feito – se a função foi realizada, pode aparecer uma reação a posteriori que tenta desfazer a ação feita.

A continuar a leitura…

  1. Freud. Inibição, Sintoma e Angústia. Editora Companhia das Letras. p.17. ↩︎
  2. Ibid, p.19. ↩︎
  3. Ibid, p.15. ↩︎
  4. Ibid, p.19. ↩︎
  5. Ibid, p.18. ↩︎
  6. Ibid, p.18. ↩︎
  7. Ibid, p.18. ↩︎
  8. Ibid, p.18. ↩︎
  9. Ibid, p.18. ↩︎
  10. Ibid, p.19. ↩︎
  11. Ibid, p.19. ↩︎
  12. Ibid, p.19. ↩︎

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